ESPELHO D´ÁGUA
Sandra Rey
Galeria de Arte Mamute tem o prazer de convidar para
a abertura da mostra Espelho d'água, da artista Sandra Rey, dia 16 de
outubro, sexta-feira, às 19h. Com curadoria de Bruna Fetter, a exposição
As obras foram realizadas a partir de arquivos
fotográficos produzidos em deslocamentos realizados em pontos extremos do
Brasil: Ilha de Combú, em Belém do Pará (deslocamento em barco), Colônia Z3 na
Praia do Laranjal no Sul do País (caminhada) e no trajeto de trem entre Ouro
Preto e Mariana, em Minas
Gerais (deslocamento em trem).
Na mostra a bidimensionalidade da fotografia é
colocada em cheque através de montagens que exploram possibilidades de pensar a
fotografia como objetos dotados de tridimensionalidade. O trabalho da
artista com a fotografia, sempre elaborado a partir de situações
vividas, agencia estranhamentos entre imagem e referente, colocando em
tensão os registros de lugares atravessados com reordenações visuais que
desestabilizam, com maior ou menor sutileza, a noção de real.
Texto da curadora
Espelho d’água
Os barcos que navegam as águas de qualquer rio
carregam em si o rio e as paisagens pelas quais deslizam. Em cenários
flutuantes, árvores, céu, água espelhada. Deslocamentos fluídos ao ritmo da
correnteza e da brisa fazem dançar a vegetação, questionam as margens e obrigam
as raízes a se suspenderem, num precário equilíbrio emaranhado. Os espelhos
formados pelas águas – como os barcos – são acessos, pontes móveis que conectam
realidades distintas, existências várias.
Para entender um espelho, primeiro temos que entender
a luz. Temos que entender o processo de virtualização que reflete a realidade,
imitando-a até o limite dos índices de incidência e reflexão. Para Foucault, o
espelho age como um espaço de negociação entre o utópico e o heterotópico, um
lugar onde ideal e real parecem se encontrar por fragmentos de momento, para
logo se desencontrarem em suas possibilidades. É nesse ‘lugar sem
lugar'¹ que o virtual toma forma e abriga os trabalhos de Sandra Rey
apresentados nessa exposição.
A partir de uma série de obras inéditas, Sandra nos
conduz por seu processo artístico: ela se desloca e, ao fazê-lo, estabelece um
íntimo diálogo com a paisagem. Lançando o olhar para o exuberante cenário
natural da Ilha de Combú, cerca de dois quilômetros distante de Belém do Pará,
a artista toma o rio Guamá por estrada e nos convida a observar as quebras
da paisagem contidas nos reflexos do rio. Mais do que reflexos, refrações de
furos e igarapés possibilitadas pela incidência da luz em suas águas
voluptuosas. Fotografias-espelho que extrapolam sua planaridade e são
convertidas em objetos dotados de tridimensionalidade. Os ângulos que as
imagens adquirem nessa delicada montagem jogam com a perspectiva e com nossa
percepção. Pequenas rupturas e reincidências nos conduzem à fronteira do
real-virtual e reforçam a imagem impressa como superfície refletora.
Conectando Norte e Sul, em caminhadas pela Colônia
(Z3) de pescadores da Praia do Laranjal, a artista registra as casas da
comunidade às margens de outras águas: aquelas pertencentes às imensidões da
Lagoa dos Patos. As casas e armazéns são fotografados por seções. Espaços
construídos se desdobram, aparentando multiplicar-se no detalhe quando somente
a adição é possível. De forma diversa, durante trajeto de trem entre Ouro
Preto e Mariana, em Minas
Gerais , a artista fotografa a paisagem da janela conectando
segmentos dispersos de horizontes. A justaposição desses fragmentos cria novas
paisagens, possíveis apenas do outro lado do espelho. Reflexos especulares.
Permeando os encontros com lugares tão variados,
Sandra desenterra raízes e as faz objeto. Logo após uma árvore deixar de ser
semente ela já é raiz. É a partir da raiz, com suas derivações, que qualquer
planta se fixa ao solo mais difícil. É por ali que ela se alimenta recebendo
água e os minerais necessários ao seu desenvolvimento. Na mostra, Sandra desdobra
isso em imagens; seja através das aéreas raízes dos manguezais belenenses que,
por descontinuidade e repetição, revelam, por aproximações de fragmentos, a
delicada resistência de existir; ou seccionando e invertendo arbustos secos
cujas raízes, apontando para cima, embaralham a noção de origem e de fim e
sugerem que espelhamentos podem ser complexos sistemas da natureza.
Na exposição, as obras agenciam estranhamentos entre
imagem e referente, possibilitando reordenações visuais que desestabilizam, em
diferentes gradações, a noção de real. A água, aqui, conecta as obras não
por sua capacidade refletora, mas sim por sua condição reflexiva.
Bruna Fetter
FOUCAULT, Michel. Dits et écrits 1984, Des espaces
autres (conferência no Cercle d'études architecturales, 14 de março 1967), in
Architecture, Mouvement, Continuité, n°5, outubro 1984, pp. 46-49.
Sobre a artista
Sandra Rey (vive e trabalha em Porto Alegre , RS)
desenvolve produção a partir de pesquisas em fotografia e tecnologia digital
produzindo trabalhos em grandes e pequenos formatos, vídeos, instalações,
livros de artista. Considera a fotografia como imagem impregnada pela
intimidade com o real, mas, uma vez isolada de seu contexto, a ser trabalhada
como um material. Sua produção é marcada por questões relativas à
natureza, mediadas pela experiência e experimentação no campo da arte e
impregnada de certa resistência aos condicionamentos da cultura. Seu
processo artístico implica a relação arte-vida e um vínculo estreito entre
pesquisa formal mediada pelas tecnologias e reflexão teórica, resultando na
articulação do pensamento visual com a escrita. Sandra Rey tem uma sólida
carreira de artista-pesquisadora construída ao longo de mais de 20 anos. Expõe
e publica textos e artigos sobre questões referentes à pesquisa em Artes Visuais e
escritos de artista. Possui obras em coleções públicas (MACRS, Museu do
Conjunto Nacional da República, em Brasília, MUNA, Uberlândia, MG). Seus
escritos sobre pesquisa em arte são referência para artistas e adotados em Universidades
Brasileiras. É Professora Titular do Departamento de Artes
Visuais, Docente Permanente do Programa de Artes Visuais da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul e pesquisadora no CNPq. Criou e coordena o Grupo
de Pesquisas Processos Híbridos na Arte Contemporânea, ativo desde 2005 na base
do CNPq. www.sandra-rey.com
Sobre a curadora
Bruna Fetter é Doutoranda em História, Teoria e
Crítica de Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da
UFRGS. Tem se dedicado a pesquisar questões que envolvem legitimação
e constituição de valor na Arte Contemporânea. Também é curadora das
mostras Da Matéria Sensível: Afeto e Forma no Acervo do MAC/RS (Porto
Alegre/2014); O Sétimo Continente (Zipper Galeria, São Paulo/2014); Lugar
Qualquer (Casa Triângulo, São Paulo/2013). Co-curadora das
exposições Mutatis Mutandis, com Bernardo de Souza (Largo das Artes, Rio
de Janeiro/2013); e Cuidadosamente Através, com Angélica de Moraes
(Centro Cultural da Funarte, São Paulo/2012).
Espelho d'água
Abertura: 16 de outubro de 2015 | 19h
Visitação até 27 de novembro de 2015
De segunda a sexta, das 14h às 18h
Sábados sob agendamento
De segunda a sexta, das 14h às 18h
Sábados sob agendamento
Galeria de Arte Mamute
Rua Caldas Júnior, 375
Centro Histórico | Porto Alegre, RS
51 3286.2615