CONVIVENDO
O significado é o uso.
Wittgenstein
A cerâmica, representada pelos objetos utilitários, é um dos adventos da civilização ao longo da história da humanidade, predominando seu lugar de destaque no contexto cotidiano das pessoas, para decorar, guardar, celebrar, comemorar, festejar, compartilhar etc., enfim, manter a vida. Nesse contexto se insere a exposição CONVIVENDO, que, desde o próprio título, apresenta uma celebração de encontros. De fato, esta exposição, composta pelas instalações Inventário, Cerâmicas e mais Cerâmicas (after Kosuth) e Imagens Amadas, é fruto da produção colaborativa, em que a cerâmica funcionou de acordo com a teoria de Nicolas Bourriaud, no livro Estética Relacional como “dispositivo relacional”, no contexto cotidiano de várias pessoas.
Inventário traz a banalidade e o requinte através da cerâmica utilitária, que revela o uso (funcionalidade), sua obsolescência e o que guardam de lembranças. Na instalação, as fotografias geradas a partir dos objetos estão apresentadas sobre prateleiras e apreendidas, também, enquanto objeto. A fotografia foi usada como foco central no contexto da cerâmica e se apresentou como uma extensão da própria linguagem da cerâmica, através do tema e do conceito, inclusive reforçado pelo fato de se tratar de uma ceramista e não de uma fotógrafa fotografando cerâmicas. Os objetos estabeleceram uma rede de encontro, de estar com as pessoas, uma rede colaborativa. O universo cotidiano do Outro foi trazido para esta obra.
A vida diária como tema para a fotografia foi largamente usada pela arte conceitual, Charlote Cotton, no livro A Fotografia como Arte Contemporânea (2010, p. 115), explica que “Por meio da fotografia, a matéria cotidiana é dotada de uma carga visual e de possibilidades imaginárias que vão além da sua função trivial. Tratamentos sensuais e saborosos, mudanças na escala ou no contexto típico, simples justaposições e correlações entre formas e formatos [...]”.
Já a obra Cerâmicas e mais Cerâmicas (after Kosuth), composta por várias xícaras sobre uma prateleira, a fotografia delas e o adesivo sobre a parede de uma definição do verbete enciclopédico “Cerâmica”, gerou uma tautologia, portanto, se aproximou da obra One and Three Chairs [1965], do artista conceitual norte-americano Joseph Kosuth. Não só essa obra, mas as outras presentes na exposição discutem acerca da própria linguagem da cerâmica além dos moldes tradicionais, enquanto extensão do conceito de arte contemporânea.
A instalação Imagens Amadas apresenta desenhos de objetos utilitários de cerâmica feitos a partir de fios de argila queimados em forno a lenha (terracota pintada), que, ao serem montados sobre as paredes de uma das salas da Galeria, criaram um espaço de imersão num contexto híbrido, labiríntico, entre cerâmica e desenho. Da mesma maneira que colaborativamente as pessoas receberam a artista em seus lares para a produção da obra Inventário, ela os recebeu em seu ateliê para modelarem esses desenhos de terracota, mantendo a rede viva. Afinal, como ela considera, é convivendo que a vida, a arte e, especialmente, a cerâmica fazem e têm sentido.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário