SUBTRAÍDOS – UMA ESTÉTICA DO DESAPARECIMENTO
O ensaio fotográfico de Péricles Mendes tem como referência um dos temas mais recorrentes deste século: o Outdoor e alguns de seus derivados (lightdoors e banners), que fazem parte do movimento conhecido como Culture Jamming. Trata-se de mistura de graffite, filosofia punk do faça-você-mesmo e intervenção urbana, se espalhando pela Europa e EUA dando início a um Robin-hoodismo semiótico. A partir da intervenção de artistas nesse meio, o Billboard Art (Outdoor arte) pode ser definido como o uso do outdoor com fins meramente artísticos, apropriado e desassociado da sua função, para “parodiar”, utilizando-se dos anúncios do próprio meio.
A interferência visual dos outdoors na paisagem urbana e rural, em torno das autoestradas e vias urbanas, são evidentes e funcionam como extensões/ampliações de uma rede de supermercado que leva o anúncio ao consumidor transeunte durante o seu trajeto por estas vias saturadas de imagens e apelos. Em tempos de crise econômica, os meios de comunicação aprimoram as qualidades de sensação dos seus comerciais para seduzir o público. As empresas com a contribuição de designers reelaboraram os sinais de comunicação para atender a demanda de anunciantes na era da informação e da imagem e passaram a assimilar em seus outdoors essa nova percepção da “paisagem em movimento”, criando o conceito de que os vidros dos carros são similiar a uma tela de tevê, onde tudo passa em fração de segundos. Diante deste panorama este ensaio fotográfico visa transformar a imposição coercitiva das mensagens dos outdoors em um signo visual artístico cuja poética se apóia em uma “contra-mensagem” que nega, opõe-se a difusão da imagem como ferramenta de dissimulação consumista. Neste sentido, o título: Subtraídos – uma estética do desaparecimento faz menção, a resignificação dessa realidade econômica-social disseminada pelo capitalismo, por uma mais subjetiva que dialogue por meio de um olhar contemplativo, estático e não mais pelo movimento fugaz dos veículos.
Todavia, o tema não ofusca a qualidade da série de fotografias expostas, visto que o que aparece de imediato são imagens bucólicas de Paisagens, em que a luz é convidativa para maior contemplação. E nela nos perdemos, muitas vezes sem saber o que estamos vendo. Se por um lado o artista nos convida a um olhar distante, por outro lado, depois de identificarmos o outdoor nesse cenário, percebemos o quanto ele é um “intruso” no espaço. Alguns já apagados, quebrados, outros sem a propaganda comercial, apenas com sua estrutura.
É, portanto, através de entrelaçamento que Péricles comunica sua repulsa pelo abuso desses meios que poluem a cidade, as estradas, o campo.
Maria Celeste de Almeida Wanner [Orientadora]
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