13 outubro, 2015

Espelho d'água. Sandra Rey. Fotografia



ESPELHO D´ÁGUA 
Sandra Rey
Galeria de Arte Mamute tem o prazer de convidar para a abertura da mostra Espelho d'água, da artista Sandra Rey, dia 16 de outubro, sexta-feira, às 19h. Com curadoria de Bruna Fetter, a exposição

apresenta obras inéditas da artista que desde 2003 vem desenvolvendo seu processo artístico a partir de arquivos de fotografias captadas em situações de viagens e caminhadas em lugares pouco contaminados por tecnologias que mediatizam as relações urbanas.
As obras foram realizadas a partir de arquivos fotográficos produzidos em deslocamentos realizados em pontos extremos do Brasil: Ilha de Combú, em Belém do Pará (deslocamento em barco), Colônia Z3 na Praia do Laranjal no Sul do País (caminhada) e no trajeto de trem entre Ouro Preto e Mariana, em Minas Gerais (deslocamento em trem). 
Na mostra a bidimensionalidade da fotografia é colocada em cheque através de montagens que exploram possibilidades de pensar a fotografia como objetos dotados de tridimensionalidade. O trabalho da artista com a fotografia, sempre elaborado a partir de situações vividas, agencia estranhamentos entre imagem e referente, colocando em tensão os registros de lugares atravessados com reordenações visuais que desestabilizam, com maior ou menor sutileza,  a noção de real.

Texto da curadora
Espelho d’água
Os barcos que navegam as águas de qualquer rio carregam em si o rio e as paisagens pelas quais deslizam. Em cenários flutuantes, árvores, céu, água espelhada. Deslocamentos fluídos ao ritmo da correnteza e da brisa fazem dançar a vegetação, questionam as margens e obrigam as raízes a se suspenderem, num precário equilíbrio emaranhado. Os espelhos formados pelas águas – como os barcos – são acessos, pontes móveis que conectam realidades distintas, existências várias.
Para entender um espelho, primeiro temos que entender a luz. Temos que entender o processo de virtualização que reflete a realidade, imitando-a até o limite dos índices de incidência e reflexão. Para Foucault, o espelho age como um espaço de negociação entre o utópico e o heterotópico, um lugar onde ideal e real parecem se encontrar por fragmentos de momento, para logo se desencontrarem em suas possibilidades. É nesse ‘lugar sem lugar'¹ que o virtual toma forma e abriga os trabalhos de Sandra Rey apresentados nessa exposição.
A partir de uma série de obras inéditas, Sandra nos conduz por seu processo artístico: ela se desloca e, ao fazê-lo, estabelece um íntimo diálogo com a paisagem. Lançando o olhar para o exuberante cenário natural da Ilha de Combú, cerca de dois quilômetros distante de Belém do Pará, a artista toma o rio Guamá por estrada e nos convida a observar as quebras da paisagem contidas nos reflexos do rio. Mais do que reflexos, refrações de furos e igarapés possibilitadas pela incidência da luz em suas águas voluptuosas. Fotografias-espelho que extrapolam sua planaridade e são convertidas em objetos dotados de tridimensionalidade. Os ângulos que as imagens adquirem nessa delicada montagem jogam com a perspectiva e com nossa percepção. Pequenas rupturas e reincidências nos conduzem à fronteira do real-virtual e reforçam a imagem impressa como superfície refletora.
Conectando Norte e Sul, em caminhadas pela Colônia (Z3) de pescadores da Praia do Laranjal, a artista registra as casas da comunidade às margens de outras águas: aquelas pertencentes às imensidões da Lagoa dos Patos. As casas e armazéns são fotografados por seções. Espaços construídos se desdobram, aparentando multiplicar-se no detalhe quando somente a adição é possível.  De forma diversa, durante trajeto de trem entre Ouro Preto e Mariana, em Minas Gerais, a artista fotografa a paisagem da janela conectando segmentos dispersos de horizontes. A justaposição desses fragmentos cria novas paisagens, possíveis apenas do outro lado do espelho. Reflexos especulares.
Permeando os encontros com lugares tão variados, Sandra desenterra raízes e as faz objeto. Logo após uma árvore deixar de ser semente ela já é raiz. É a partir da raiz, com suas derivações, que qualquer planta se fixa ao solo mais difícil. É por ali que ela se alimenta recebendo água e os minerais necessários ao seu desenvolvimento. Na mostra, Sandra desdobra isso em imagens; seja através das aéreas raízes dos manguezais belenenses que, por descontinuidade e repetição, revelam, por aproximações de fragmentos, a delicada resistência de existir; ou seccionando e invertendo arbustos secos cujas raízes, apontando para cima, embaralham a noção de origem e de fim e sugerem que espelhamentos podem ser complexos sistemas da natureza.
Na exposição, as obras agenciam estranhamentos entre imagem e referente, possibilitando reordenações visuais que desestabilizam, em diferentes gradações,  a noção de real. A água, aqui, conecta as obras não por sua capacidade refletora, mas sim por sua condição reflexiva.
Bruna Fetter

FOUCAULT, Michel. Dits et écrits 1984, Des espaces autres (conferência no Cercle d'études architecturales, 14 de março 1967), in Architecture, Mouvement, Continuité, n°5, outubro 1984, pp. 46-49.

Sobre a artista
Sandra Rey (vive e trabalha em Porto Alegre, RS) desenvolve produção a partir de pesquisas em fotografia e tecnologia digital produzindo trabalhos em grandes e pequenos formatos, vídeos, instalações, livros de artista. Considera a fotografia como imagem impregnada pela intimidade com o real, mas, uma vez isolada de seu contexto, a ser trabalhada como um material. Sua produção é marcada por questões relativas à natureza, mediadas pela experiência e experimentação no campo da arte e impregnada de certa  resistência aos condicionamentos da cultura. Seu processo artístico implica a relação arte-vida e um vínculo estreito entre pesquisa formal mediada pelas tecnologias e reflexão teórica, resultando na articulação do pensamento visual com a escrita. Sandra Rey tem uma sólida carreira de artista-pesquisadora construída ao longo de mais de 20 anos. Expõe e publica textos e artigos sobre questões referentes à pesquisa em Artes Visuais e escritos de artista. Possui obras em coleções públicas (MACRS, Museu do Conjunto Nacional da República, em Brasília, MUNA, Uberlândia, MG). Seus escritos sobre pesquisa em arte são referência para artistas e adotados em Universidades Brasileiras. É Professora Titular do Departamento de Artes Visuais, Docente Permanente do Programa de Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisadora no CNPq. Criou e coordena o Grupo de Pesquisas Processos Híbridos na Arte Contemporânea, ativo desde 2005 na base do CNPq. www.sandra-rey.com

Sobre a curadora
Bruna Fetter é Doutoranda em História, Teoria e Crítica de Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRGS. Tem se dedicado a pesquisar questões que envolvem legitimação e constituição de valor na Arte Contemporânea. Também é curadora das mostras Da Matéria Sensível: Afeto e Forma no Acervo do MAC/RS (Porto Alegre/2014); O Sétimo Continente (Zipper Galeria, São Paulo/2014); Lugar Qualquer (Casa Triângulo, São Paulo/2013). Co-curadora das exposições Mutatis Mutandis, com Bernardo de Souza (Largo das Artes, Rio de Janeiro/2013); e Cuidadosamente Através, com Angélica de Moraes (Centro Cultural da Funarte, São Paulo/2012).  


Espelho d'água

Abertura: 16 de outubro de 2015 | 19h
Visitação até  27 de novembro de 2015
De segunda a sexta, das 14h às 18h
Sábados sob agendamento


Galeria de Arte Mamute
Rua Caldas Júnior, 375
Centro Histórico | Porto Alegre, RS
51 3286.2615




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